Desigualdades de género em contextos rurais em Moçambique: estudos de caso em localidades no Província de Nampula

Citation:

Agy, Aleia Rachide. 2018. “Desigualdades de género em contextos rurais em Moçambique: estudos de caso em localidades no Província de Nampula.” Trabaalho apresentado na Desafios da Investigação Social e Económica em Tempos de Crise, Maputo, Setembro 19-21.

Author: Aleia Rachide Agy

Annotation:

Summary:
"Nos países africanos, em geral, e na África Austral, em particular, as desigualdades de género têm sido discutidas tendo em conta os papéis sociais, a gestão dos rendimentos, as disparidades no acesso à educação, à saúde, aos recursos, à informação e à comunicação, bem como a participação nos processos de tomada de decisão.
 
Nas abordagens sobre desigualdades sociais em Moçambique constata-se que a mulher constitui, frequentemente, o actor mais fraco, particularmente no que respeita ao acesso a recursos, como rendimento ou terra, ou ao nível da participação cívica e comunitária.
 
Apesar de as mulheres rurais realizarem muitas horas de trabalho na actividade agrícola, em termos de acesso e controlo de bens, tecnologias, insumos e serviços necessários para o desempenho e facilitação dessas tarefas, as mulheres aparecem desfavorecidas. A falta de segurança das mulheres em relação à posse da terra, a concentração dos serviços de extensão na figura masculina (Valá, 2006: 113), as barreiras para a obtenção do crédito comercial e outras formas de discriminação constituem factores determinantes para colocar a mulher no círculo vicioso de baixo rendimento, baixa produtividade, cargas laborais elevadas e saúde deficiente. Os rendimentos baixos (e incertos) das mulheres estruturam-se noutros factores socioeconómicos e culturais, muitos dos quais são importantes para compreender a sua vulnerabilidade.
 
Os distritos de Monapo e Nacarôa, localizados na província de Nampula, caracterizam-se pela presença de comunidades matrilineares. Todavia, verificam-se fortes mudanças, relacionadas com o casamento, contrariando o princípio verificado por Geffray (1990), matrilocal, segundo o qual, após o casamento, o homem se muda para a aldeia da mulher. Com efeito, nos distritos em estudo, após o casamento, o casal passa a residir nas terras do homem e, mesmo nos casos em que vive algum tempo na zona da mulher, posteriormente o casal transfere-se para as terras do marido ou para as chamadas “zonas neutras”2, facto que foi igualmente constatado por Osório (2006).
 
Osório (2006: 9-13) explica que esta situação reflecte a perda de influência das estruturas familiares, uma vez que o abandono da matrilinearidade reforça o modelo patriarcal e se traduz num enfraquecimento dos laços entre casais. Constata-se que, mesmo existindo a estrututura matrilinear, o homem é sempre identificado (por mulheres e homens) como o chefe da família e como o dono da terra. Para os homens, ser chefe de família é “educar as mulheres e as crianças”, “vender produtos” e “construir casa”.
 
Embora existam diversas abordagens sobre temas ligados à cultura e à desigualdade de género, a realidade é que, em regiões de investimento (como Monapo) e de pobreza (como Nacarôa), as dinâmicas culturais estão em constante mutação e readaptação, constatando-se um défice de análises sobre a influência da linhagem ao nível das desigualdades sociais. Por conseguinte, importa analisar o acesso aos recursos de poder como à terra, o acesso e a gestão dos rendimentos, o acesso à educação, bem como aos cuidados de saúde, como factores preponderantes para a emancipação da mulher no meio rural. Assim, a categoria género é utilizada como um conceito que permite trazer ao de cima as relações sociais, as hierarquias de poder subjacentes à convivência de mulheres e homens nas famílias. O uso deste conceito permite identificar os efeitos de diferenças de género configuradas por estruturas de poder, marcadas pela dominação masculina.
 
Este artigo está organizado em sete secções. Numa primeira fase, a Introdução, em que se apresenta de forma breve o assunto em discussão. A segunda secção faz uma reflexão sobre as desigualdades sociais de género em Moçambique, a terceira apresenta os objectivos e a metodologia. A quarta secção é consagrada ao estudo de caso, em que se descreve o objecto de estudo. Na quinta secção caracteriza-se as dimensões de desigualdade social de género. Na sexta secção são apresentadas as reflexões finais. Por último, encontram-se as referências bibliográficas" (Agy 2018, 369-70).

Topics: Gender, Rights, Land Rights Regions: Africa, Southern Africa Countries: Mozambique

Year: 2018

© 2023 CONSORTIUM ON GENDER, SECURITY & HUMAN RIGHTSLEGAL STATEMENT All photographs used on this site, and any materials posted on it, are the property of their respective owners, and are used by permission. Photographs: The images used on the site may not be downloaded, used, or reproduced in any way without the permission of the owner of the image. Materials: Visitors to the site are welcome to peruse the materials posted for their own research or for educational purposes. These materials, whether the property of the Consortium or of another, may only be reproduced with the permission of the owner of the material. This website contains copyrighted materials. The Consortium believes that any use of copyrighted material on this site is both permissive and in accordance with the Fair Use doctrine of 17 U.S.C. § 107. If, however, you believe that your intellectual property rights have been violated, please contact the Consortium at info@genderandsecurity.org.